Banalidades

O que é o banal?

O banal é muitas vezes algo que se tornou rotina, que por se repetir tantas vezes deixou de nos surpreender ou maravilhar.

Não é propriamente algo medíocre ou sem sabor. Pequenos gestos a paisagens extraordinárias aos quais com o passar do tempo ficamos “imunes”. Indiferença e apatia geradas pela obsessão e ganância de querer ser surpreendido todos os dias, de querer algo novo a todo o segundo.

Não há sempre uma novidade à espreita; uma notícia bombástica cada vez que pegamos no telemóvel; uma surpresa sempre que nasce um novo dia. A vida não é assim. Nem o poderia ser, pois seria extenuante.

Manter uma boa rotina, uma rotina de boas “banalidades” é extremamente difícil.
Dias não são dias e há uns mais difíceis que outros. Outros em que simplesmente dizer um “Olá”, essa pequena trivialidade, custa. Custa, porque só apetece estar no nosso cantinho sem que ninguém nos chateie.

É muito fácil julgar quando alguém é condescendente, mal-humorado ou apenas não foi tão bom como era esperado. É fácil julgar e criticar mesmo quando não sabemos o que se passa com o outro, no seu interior, no seu coração.
Mas quando o contrário se verifica, quando alguém é bondoso, educado, profissional ou ultrapassa a expectativa esperada, é fácil ignorar. Não se dá o devido valor, por se achar que “é normal”, “não fez mais que a sua obrigação”, “foi apenas bem educado”…

O empregado de mesa, serve sempre com um sorriso na cara, o que não é mais que a sua função. Estar disponível e ser educado. Não significa isso, que não seja extraordinário ele estar com essa disposição dia após dia independentemente do que lhe vai na alma. São estes detalhes que muitas vezes nos escapam.

Cada dia, é um novo dia. Novos desafios, novos problemas, novas dores de cabeça. Tudo isto a juntar ao acumulado dos dias anteriores.
Cada dia é um recomeçar, um tentar ser melhor, um tentar ser feliz ou manter a felicidade que se conquistou. Um repetir melhorando o que se fez bem, tentando evitar o que de mal se fez.

Se olharmos a vida, cada dia, cada gesto agradável nesta perspectiva, aquilo que era uma banalidade, um dado adquirido, ganha uma nova cor, um novo brilho.
Cada luar, cada nascer do sol, cada boa acção serão uma lufada de ar fresco num mundo que cada vez menos se deixa impressionar pelo que realmente importa. Que não escuta os pequenos detalhes do quotidiano.
O banal é de facto extraordinário.

Extraordinariamente banal é também a nossa capacidade de o ignorar, e aos poucos ir perdendo a genuína alegria de que o mero facto de acordarmos para mais um dia não é suficiente.

                                                                                                                             JPVG

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